• Página Anterior

    Novas regras de resseguro surpreendem executivos

    2015-07-22

    Fonte: Sonho Seguro

    As medidas de flexibilização das regras que abriram o mercado de resseguro brasileiro foram comemoradas por alguns executivos, principalmente os de seguradoras estrangeiras sem um braço de resseguro no Brasil.
     
    Já os grupos que investiram para abrir uma resseguradora local não gostaram nada das medidas, ainda mais por não terem sido ouvidos pelo governo. No entanto, temos novas regras, que aumentam até 75% o percentual de resseguro que seguradoras podem passar para a resseguradora do próprio grupo e também reduzem a obrigatoriedade de oferta de 40% do contrato para as resseguradoras que se instalaram no Brasil como local, de forma gradual, chegando a 15% em 2020.
     
    “O anúncio, confesso, me causou surpresa já que essa regra afeta a avaliação do IRB, maior ressegurador nacional e que está em fase preparatória para realizar IPO no segundo semestre, como tem anunciado o governo. O lado bom é que o IRB já está mais preparado para competir de igual para igual com os estrangeiros, bem posicionado e já iniciou o processo de internacionalização”, pondera Rodrigo Protasio, master de Seguros pelo IAG-PUC, bacharel em direito e CEO da JLT Re Brasil Corretora de Resseguros, empresa do grupo Jardine Lloyd Thompson Plc.
     
    E como elas impactam clientes, corretores, seguradoras e resseguradores? “Os resseguradores locais que aqui investiram para aproveitar a proteção e os grupos nacionais vão sofrer mais competição dos seguradores e resseguradores estrangeiros, uma vez que passarão a acessar seus capitais no exterior e assim alavancarão seus programas internacionais de resseguros”, avalia.
     
    Para ele, as medidas mostram a intenção do governo de abrir mais o mercado a favor das seguradoras estrangeiras, que tem dominado o setor de grandes riscos e por isso são as maiores compradoras de resseguro. “A tendência é que os estrangeiros procurem se ressegurar com sua matrizes”, acrescenta Protasio, em entrevista concedida ao blog Sonho Seguro.
     
    Os segurados pouco serão impactados, acredita o corretor, pois hoje eles já conseguem preços menores no Brasil do que a média praticada no exterior. “O Brasil tem taxas muito competitivas e é o país que mais abre seu mercado de resseguro. É um movimento positivo e necessário, mas que deveria ocorrer também em outros setores da economia”, pontua. Somente India (GIC) e China ainda mantém proteção ao mercado local, bem como Coreia do Sul, onde o resseguro é monopólio da ex-Estatal Korean Re na área de vida.
     
    Para o CEO da JLT Re Brasil, com muitos negócios com o IRB, o ressegurador local tem tudo para ser o líder de resseguros na América Latina e um bom player internacional. “Tem experiência e quadros competentes para ampliar sua participação no exterior, com aproximadamente 10% das suas receitas já em negócios de resseguro no exterior e com perspectivas de chegar a 30% e até 50% dos seus prêmios captados no exterior no futuro”.
     
    Para Protasio, o mercado de resseguros tem potencial para crescer e dobrar de tamanho em 5 anos, caso o mercado de seguros continue a crescer 15% ao ano e a economia volte a crescer na casa de 3,5% ao ano em média.
     
    No entanto, esse patamar está longe das perspectivas para 2015, com PIB negativo, e de 2016, com projeções de economia estagnada. No entanto, o setor de seguros mantém crescimento de dois dígitos no primeiro semestre de 2015, estimulado pelo esforço das seguradoras em atingir novos mercados. “A penetração de seguros no PIB brasileiro ainda é baixa se comparamos com outros países, sendo de aproximadamente 4,5%. Há grande potencial para crescimento deste mercado”, enfatiza.
     
    Protasio acrescenta que a regra de proteção do mercado de resseguros válida desde 2008, quando o setor foi aberto, não aumentou o preço final do seguro ao segurado, deu proteção ao mercado com um todo, gerou empregos e motivou 16 resseguradores locais a investirem no país, com aporte de capital para a abertura da resseguradora, bem como na contratação de pessoal especializado, criando um mercado local, onde havia somente o IRB até 2007.
     
    O Brasil conta hoje com 36 resseguradores admitidos registrados e 74 resseguradores eventuais, o que traz um leque de opções generoso para os clientes, que contam com os principais grandes grupos internacionais em território nacional. “Meu medo a longo prazo é que a regra flexível poderá enfraquecer nosso mercado local, já que a tributação dos resseguradores locais em média é mais alta que no exterior.
     
    Nosso país fala português e não temos a melhor e mais treinada mão-de-obra. Ou seja, poderemos perder oportunidade e evidência”, afirma. Segundo ele, o modelo atual não pode ser considerado falho, já que nenhuma empresa ficou sem seguro ou resseguro ou não obteve preço competitivo para contratar seguros em relação aos preços no mercado externo para risco similar nesses anos de abertura.
     
    “Trabalho para uma empresa de capital estrangeiro, a JLT , que é o 4º maior broker (corretora) de resseguros do mundo, mas sou brasileiro e quero um mercado local forte e promissor. Vamos sempre nos adaptar às regras, mas o mais importante é a segurança do sistema para que as regras não fiquem mudando o tempo todo, prejudicando investidores e operadores, que precisam de segurança e credibilidade, já que são investimentos e operações de longo prazo e duradouras”.