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ABGR 2025: Mercado se prepara para desafios e oportunidades do Marco Legal
2025-08-13
Fonte: Revista Apólice
EXCLUSIVO – O local de encontro dos maiores segurados brasileiros. Assim pode ser definido o evento realizado pela ABGR – Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos, que acontece dias 12 e 13 de agosto, em São Paulo. A proposta do evento é discutir o gerenciamento de riscos nas organizações e o marco legal do mercado de seguros. A preocupação do setor com a nova legislação é justamente a sua adaptação às novas regras, que entram em vigor em dezembro de 2025.A edição 2025 da Expo ABGR trouxe como tema central o novo marco legal do setor, que entra em vigor em dezembro e já se encontra em fase de maturação. “O assunto, que começou a ser discutido em 2023 ainda como projeto de lei, gerava muitas dúvidas e preocupações no mercado. Agora, com as regras mais claras, cresce a percepção de que será necessário um trabalho conjunto entre todos os entes — seguradoras, corretores, resseguradores e gerentes de risco — para garantir a continuidade e eficiência na colocação dos riscos”, explicou Luiz Otavio Artilheiro, presidente da ABGR.Segundo ele, os associados, que atuam principalmente com grandes riscos — agora definidos como riscos complexos —, estão atentos aos impactos que a nova legislação pode trazer, especialmente no que diz respeito à colocação desses riscos no mercado internacional, envolvendo resseguro e retrocessão. Trata-se de um ponto que ainda desperta dúvidas e exige acompanhamento constante.A expectativa é de que o diálogo entre corretores, seguradoras e gestores de risco seja fortalecido, evitando aumentos excessivos de preço ou a fuga de capacidade. “O momento exige união para encontrar soluções que minimizem impactos e assegurem que os riscos continuem sendo colocados de forma adequada”, destacou o presidente da entidade.A Lei 15.040, considerada um marco regulatório para os contratos de seguro, foi apontada como um avanço significativo na segurança jurídica e na organização das relações contratuais. Para o representante da Susep, Alessandro Octaviani, o novo diploma traz mudanças estruturais importantes, como a criação de um regime de garantias institucionais específico e a formação de um microssistema jurídico para o direito dos contratos de seguro. “Estamos falando de um salto regulatório que coloca o Brasil em linha com os principais mercados do mundo. O mercado está mais maduro, apto a resolver seus problemas e protegido por um sistema robusto de garantias”, afirmou.Um dos pontos centrais do debate foi a necessidade de ampliar a penetração do seguro no país, especialmente diante de eventos de grande impacto, como as enchentes no Rio Grande do Sul. Dos R$ 100 bilhões estimados para reconstruir o Estado, apenas R$ 6 bilhões vieram do mercado segurador. “Essa lacuna de proteção evidencia o desafio de expandir a contratação de seguros e aumentar a potência das empresas que atuam no setor”, ressaltou o painelista.A lei também introduz dispositivos que fortalecem a previsibilidade contratual, como regras claras para o momento de aceitação de propostas, prazos específicos para regulação de sinistros e a obrigação de cooperação contínua entre segurados e seguradores. Outro ponto inovador é o tratamento dado aos seguros de pessoas, que agora contam com destinação obrigatória para valores de reservas esquecidas por beneficiários que desconheciam seu direito.O segundo semestre de 2025 será marcado pela implementação da estratégia regulatória da Susep, que precisará dar sustentação a dois marcos legislativos simultaneamente: a Lei 15.040 e a Lei Complementar 213, que regulamenta a atuação de novas entidades no mercado, como as associações de proteção patrimonial. As primeiras normas da Lei 213 já estão sendo preparadas para consulta pública e a autarquia pretende manter o espírito de diálogo amplo que marcou a construção da legislação.Na visão do mercado, expressa pelo presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, a Lei 15.040 não deve gerar obstáculos significativos, já que consolida práticas já adotadas pelo setor. O principal desafio estará na interpretação e aplicação de seus mais de 150 dispositivos. “Temos um texto técnico, fruto de um debate profundo, que vai exigir um período de sedimentação. O mercado está preparado para essa transição”, avaliou.Oliveira disse que há mais “dragões e fantasmas”na discussão da Lei do que problemas concretos. “O debate foi profundo, técnico e detalhado, não ficando apenas na superfície, com a participação de seguradores e corretores de seguros. A Lei é praticamente toda autoaplicável”.Rafaela Maria Barreda, presidente da Fenaber – Federação Nacional das Resseguradoras, destacou que o momento atual é de colaboração e não de disputa. “Não é a briga do mais forte com o mais fraco, mas como fazemos para que o mercado segurador e ressegurador seja resiliente e continue oferecendo garantias no futuro”, afirmou.Segundo ela, a lei impõe a necessidade de preparar o mercado para 11 de dezembro já com procedimentos minimamente ajustados. Isso inclui, por exemplo, o alinhamento entre segurados, seguradoras e resseguradores quanto aos processos de regulação de sinistros. “Ninguém vai acertar tudo de primeira, mas aprenderemos com os erros e aprimoraremos as dinâmicas”, ressaltou.A profissionalização foi apontada como um dos ganhos esperados com a nova lei. Barreda observou que, para se adaptar, o setor precisa investir em conhecimento técnico e antecipação de etapas, como a renovação de apólices com informações mais robustas, permitindo uma análise de risco mais precisa. “Não basta trocar meia dúzia de papéis. É preciso construir um diálogo efetivo”, reforçou.Manuel Mattos, vice-presidente da Fenacor – Federação Nacional dos Corretores de Seguros, disse que é a primeira vez que novos atores infratechs, empresas ligadas a tecnologia, comercialização e dados, têm acesso às discussões. “O fluxo entre segurados e seguradoras é pautado por tecnologia, inovação, dados e consentimentos. Os avanços acontecerão de forma simultânea às mudanças”, acrescentou.Kelly Lubiato, de São Paulo